Bebo na Fonte do Tantra quando me refiro às energias Feminina, representada por Shakti e Masculina representada por Shiva. Conceitos que vão muito além da percepção dual e limitada de gêneros.
Segundo o Tantra, Shiva representa a consciência cósmica amorfa e não manifestada, o princípio estático e transcendente que permeia todo o universo. Ele é o estado de pura potencialidade, o fundo imóvel da existência, o silêncio absoluto que contém tudo, mas que em si mesmo não se manifesta.
Shakti, por outro lado, é a energia dinâmica e manifesta, o princípio ativo que dá forma e movimento a essa consciência. Ela é a força criativa primordial que anima o cosmos, trazendo a existência à vida. Enquanto Shiva é o substrato imóvel e não dual, Shakti é o poder vibrante que se manifesta em todas as formas — desde os elementos da natureza até os sentimentos e pensamentos humanos.
Essa relação simbólica entre Shiva e Shakti reflete a interdependência entre a consciência e a energia criativa: um não pode existir sem o outro. Shiva, sem Shakti, seria pura inércia; Shakti, sem Shiva, seria caos descontrolado. Juntos, eles representam a totalidade do ser e da criação — consciência e manifestação, potencial e ação, vazio e plenitude.
Shiva é o princípio da imutabilidade, representando a essência eterna e inalterável do cosmos, enquanto Shakti é o princípio da mudança, a força dinâmica que dá forma e transforma a realidade. Embora tenham atributos distintos, Shiva e Shakti são vistos como iguais em importância, inseparáveis e complementares. Eles formam uma unidade perfeita, onde o imutável e o mutável coexistem como partes de um todo.
Essa união perfeita é o fundamento do Tantra. Quando Shakti (energia) se une a Shiva (consciência cósmica), ela se torna o Absoluto — a totalidade da existência. Shakti é guiada pela consciência de Shiva, conferindo direção e propósito à criação. Contudo, a própria consciência de Shiva não pode se expressar sem Shakti. A consciência, por si só, permanece em estado de potencialidade até que a energia a manifeste.
Essa relação nos lembra que tanto a energia quanto a consciência, o mutável e o imutável, o ativo e o passivo, são indissociáveis e necessários para o equilíbrio cósmico e para a existência plena.
Há vários sistemas distintos para a percepção dos chakras. De acordo com a tradição mais difundida no Ocidente, são considerados sete chakras principais, alinhados ao longo da coluna vertebral no corpo energético. A força que os anima é a energia de Shakti, manifestada como Kundalini, simbolizada por uma serpente que ascende do primeiro chakra, na base da coluna (Muladhara), até o sétimo chakra (Sahasrara), no topo da cabeça.
No sétimo chakra reside Shiva, a consciência pura e transcendente. Quando Shakti/Kundalini desperta e atinge o topo da cabeça, encontrando Shiva, ocorre uma dança alquímica, onde ambos se fundem em unidade. Essa união é simbolizada na figura da divindade Ardhanarishvara, que representa Shiva e Shakti como um único ser.
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