Discordo das vertentes que atribuem o planejamento e a execução das grandes pirâmides e obeliscos de Kemet a seres extraterrestres. Essa visão, em grande parte, parece derivar da dificuldade de reconhecer que povos africanos possuíam o conhecimento e a habilidade para realizar obras arquitetônicas de tal magnitude. É um reflexo da tendência de associar pessoas negras a cenários de pobreza e subalternidade, subestimando suas capacidades e conquistas.
Em Kemet floresceu uma civilização dotada de uma sabedoria profunda e de canais extraordinários de conexão com o Universo. Acredito que se percebiam como seres multidimensionais, com uma compreensão do mundo menos distorcida pelos "véus da ilusão" que hoje confundem de forma incisiva essa percepção. Apontavam para as estrelas quando quando questionados sobre suas origens, tanto as construções como a vida quotidiana se alinhava ao cosmos.
A relação entre Kemet e Sírius é particularmente marcante. Sírius, uma das estrelas mais brilhantes do céu noturno, era chamada de Sopdet e representada como uma mulher com uma coroa estrelada, muitas vezes associada a um símbolo de água para indicar sua ligação com a fertilidade e a renovação. Sopdet era considerada a esposa de Sah (a constelação de Órion) e mãe de Sopdu (Vênus), formando uma tríade cósmica que refletia a harmonia entre o céu e a terra.
O aparecimento heliacal de Sopdet, após um período de invisibilidade, era um evento de grande importância, pois anunciava a chegada das cheias do Nilo. Essas cheias eram cruciais para devolver a fertilidade ao vale do Nilo, garantindo colheitas abundantes e sustentando a vida na região. Já a câmara real da pirâmide de Quéops está alinhada com a constelação de Órion, permitindo que a alma do faraó encontrasse seu caminho de volta "para casa". Esse alinhamento revela a profunda compreensão astronômica e espiritual dos povos de Kemet, destacando sua conexão com o cosmos e suas crenças em um ciclo de vida que transcende a existência terrena.
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